Onde o amor pelo esporte encontra o olhar de mãe. Uma história nova a cada 15 dias.
A final que fez nascer um gigante
Entre tensão, silêncio e coração acelerado, um menino de 10 anos mostrou o que é coragem.
Flavia Cabral
4/8/20253 min read


Estamos no segundo campeonato do ano da categoria em que meu filho joga: o Pré-Infantil, que reúne crianças de 8 a 10 anos. No dia 6 de abril de 2025, em Ibiúna, o Torneio Início de Beisebol — Taça Honório Mukai reuniu times de todo o Brasil para dar início a uma disputa que só se definirá em dezembro, em Londrina.
Esse é o terceiro ano do meu filho no Pré-Infantil — mas, oficialmente, o segundo, já que ele subiu junto com uma turminha um ano antes dos demais. Isso aconteceu porque a categoria Infantil, uma acima da dele, não consegue completar o time apenas com crianças nascidas em 2013 e 2014.
Os campeonatos de beisebol se estendem, geralmente, por todo o fim de semana. No sábado, jogaram a classificatória que definiria os confrontos de domingo. Depois de perder o primeiro jogo e ganhar o segundo, ficaram na Chave Prata — a segunda do campeonato. No domingo, venceram a semifinal e lá iam eles, Atibaia, disputar a final contra Bastos.
Fazia tempo que não chegavam tão longe. Acho que a última vez que jogaram dois jogos em um domingo foi há uns sete meses, no ano passado, com outra configuração de time — quem conhece o beisebol sabe: todo ano entram e saem atletas. Naquela ocasião, Atibaia havia perdido de lavada, algo em torno de 12x0.
Pois bem. O jogo já durava uma hora e agora era o último inning. Estávamos atacando, na parte alta, e o jogo tinha virado de forma inacreditável. Estávamos perdendo por 5x3, e de repente — num trabalho maravilhoso dos rebatedores, rebatida após rebatida — viramos para 9x5.
Mas o jogo não acaba assim, não no beisebol. Aqui, os times precisam ter as mesmas chances de ataque e defesa — e, para nós, ainda faltava defender. Precisávamos fazer apenas três eliminações para conquistar a taça. Um resultado inédito — mas que só viria se conseguíssemos segurar o placar.
Yaguinho, nosso canhoto, começou arremessando o último inning, já no limite das suas bolas. Fez um trabalho tremendo, jogando quase todas as 55. Conseguiu mais um out em uma rebatida curtinha que ele mesmo pegou e eliminou na primeira base. Mas os rebatedores adversários eram bons — e ele, cansado. As bases logo se encheram. E, para piorar, outro rebatedor conseguiu uma batida curta e anotou uma corrida simples. O placar encostou: 9x6.
Yago olhou para o sensei com preocupação. O sensei olhou para a defesa, pensando no que fazer. E lá estava ele, já aquecido: Nicola Cabral, meu filho. Aquele que sempre dizia que o que mais gostava era fechar o jogo. O treinador, que ainda não o conhecia direito, hesitava em colocá-lo. Mas Nico pediu — e o sensei de arremessadores, recém-chegado ao time, acreditou. Chamou.
Nicola girou os ombros. Ajeitou o boné. Respirou fundo. E caminhou para o montinho — aos 10 anos de idade. Passos firmes. Silêncio em volta. A tensão atravessava a cerca, os corpos, o peito.
Entra o primeiro rebatedor:
🎯 Strike.
🎯 Strike.
🎯 Strikeout.
A torcida veio abaixo. Estávamos tão perto, mas ainda faltava uma eliminação — e as bases continuavam lotadas.
O segundo rebatedor conseguiu uma batida curtinha na terceira base. O defensor corre, pega a bola e tenta o lance para o catcher, mas não dá: mais um ponto entra. 9x7. Bastos estava encostando e cheio de possibilidades. Todo mundo apreensivo. Não podia entrar mais nenhum ponto.
Terceiro rebatedor:
🎯 Strike.
😬 Ball.
Um desespero começa a tomar conta da torcida, que grita:
— “Nico, mais um strike! Mais um!”
🎯 Strike.
Respira. Só faltava uma bola. A vitória estava ali, a um strike de distância. Nico levanta a perna e lança a bolinha com toda a força e esperança. O juiz grita:
🎯 Strikeout. Fim de jogo.
O arremessador se ajoelha no montinho, tomado pela emoção. O time inteiro corre em sua direção. Pulam nele, gritam, choram, vibram. Era ele ali — chamado para decidir.
O mais interessante é que ele sabia que conseguiria. Pediu uma chance e entregou o que prometeu.
Ali, naquele instante, não era só sobre ganhar e ser o campeão da Chave Prata. Era sobre segurar a pressão, o medo de errar e o ruído do adversário. Era sobre ser chamado para decidir e entregar tudo: coragem, garra e coração.
Foi só um jogo de beisebol. Mas, ali, um menino descobriu o tamanho da própria coragem — e cresceu diante dos nossos olhos. GIGANTE.


Os campeões da chave prata da Taça Honório Mukai, 2025: Atibaia Pré-Infantil
Outras Crônicas para Mães de Atleta
Contato
Você é mãe de atleta (de qualquer esporte) e quer compartilhar sua experiência? Mande sua história. Eu posso transformá-la em crônica ou publicar como depoimento.
Newsletter
© 2025. All rights reserved.
Apoio
Receba as crônicas no seu e-mail, na hora que são publicadas
Essas marcas acreditam no poder transformador do esporte para as crianças

