A lição que só o jogo ensina

Repetimos e repetimos, mas tem coisa que as crianças só aprendem vivendo

Flavia Cabral

5/26/20253 min read

Faz algumas semanas que o Nico estava… difícil. Sabe aquele jeitinho de quem começa a ir bem e acha que já sabe tudo? Como qualquer menino de 10 anos cheio de confiança. Achava que não precisava treinar tanto. Que já estava pronto.

Vinha numa fase excelente no beisebol — só crescendo, subindo, se destacando. Mas aí veio esse último torneio, que ensinou em dois dias o que eu venho tentando conversar com ele há meses

Sábado: o baque

Primeiro jogo de Atibaia no torneio livre do Cooper Clube (I Torneio Melissa Yunomae — 3 e 4 de abril de 2025). Nosso time jogaria contra Indaiatuba, um dos times mais fortes da categoria. Precisávamos da vitória para ir, ao menos, para a Chave Prata.

Bernardo e Paulinho tinham conseguido, com muito custo e dificuldade, levar o jogo até ali. Tomaram alguns hits e fizeram poucos strikeouts, mas a defesa parecia estar até que funcionando bem. Nico deveria entrar agora como pitcher para fechar a partida. Tinha que fazer o que sabe fazer de melhor: segurar o jogo e não deixar entrar ponto, pra que o ataque pudesse virar o placar de 3x2.

O sensei de arremesso o chamou pra aquecer. Mas o primeiro batedor estava no ataque, e o Nico seria o quarto. Além disso, Paulinho tinha direito de arremessar mais algumas bolas, e Nico achava que não seria a hora dele entrar, naquele momento. Decidiu:

"Não vou aquecer agora.", disse ele para o Sensei.

Foram 3 rebatedores, 3 outs. Nico nem chegou a bater. E, assim, de repente, abriu o próximo inning. Nesse momento, o treinador principal resolveu colocá-lo. E lá foi ele, direto pro montinho — sem aquecer e sem segurança. Jogou as 5 bolas permitidas, e o sensei de pitcher disse:

"Agora se vira aí sozinho."

Mas a confiança deu lugar à realidade. Tomou paulada: 12 pontos, 5 de sua responsabilidade, e 4 walks — marca que ele não tinha feito ainda esse ano (nem sei se fez algum dia). Olhar perdido. Coração em pedaços. O sensei de pitcher não tirava ele de lá, não pedia tempo, não dava instrução. A defesa também começou a errar e, quando tinha batida, mesmo que fácil, a bola caía no chão. Pesadelo. E ele ficou ali, sozinho, tendo que jogar, errando — e sem chorar.

Não fechou o inning e saiu sem eliminar ninguém. ERA nas alturas. Silêncio no campo — e dentro dele também. Foi difícil de assistir. Como mãe, como anotadora e como torcedora. Que dor ver aquilo tudo acontecendo.

Domingo: a virada

Outro jogo. Outra chance. O primeiro jogo da Chave Prata, contra o Tozan. Não sabíamos se seria ele ou o colega que entraria no final. E mesmo assim, dessa vez, ele chamou o sensei de pitcher pra aquecer. E o sensei fez um trabalho tremendo com ele. Eu vi que ele se esforçou além da conta.
E lá foi Nico pro montinho. Com calma. Com apoio. Com respeito. Fez o trabalho bem-feito. Eliminou rebatedores, fechou o jogo sem hits, sem walks, sem corridas cedidas — como ele sabe fazer. Voltou inteiro. E feliz, mesmo perdendo o jogo.

Ganhou um troféu de destaque do time. E disse para o treinador:

“Esse fim de semana, eu aprendi uma lição.”

Sim, filho. A mais importante de todas: que para ser bom, precisa ouvir os outros e se dedicar. Que, às vezes, a gente precisa sofrer as consequências das nossas escolhas. E que, apesar do erro, dá pra se levantar — e sair maior.

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