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O menino ao lado: uma rivalidade que acende os campos de Atibaia
E quando o brilho veio no outro, o que acontece quando você tem 10 anos?
Flavia Cabral
8/11/20256 min read


Nico e Vini, os rebatedores gigantes do Atibaia Pré-Infantil
Você já deve ter ouvido uma história parecida ou tido um amigo assim: brilhante, que parece ser naturalmente bom. Aqui em Atibaia, vira e mexe aparece um — o André, o Jean, o Nuno, o Thor e agora… o Vini. É aquele menino que a gente tem certeza que vai chegar em algum lugar com o esporte. Mas essa história é sobre o que acontece quando temos um menino desses no time, mas não somos ele. É a história sobre crescer, sobre luz e fogo e, acima de tudo, sobre amizade e reconhecimento das individualidades.
Vini e Nico nasceram no mesmo mês, janeiro de 2015, com apenas duas semanas de diferença. Vini no dia 19, Nico no dia 30. Eles se conheceram no beisebol, aos 7 anos, na época do T-ball. Era mais terra que regra, mais brincadeira que jogada. Mas, desde cedo, já se destacavam com seus corpos fortes e entrega total.
Logo, tornaram-se a dupla referência. A frase era sempre a mesma: “O Vini e o Nico são os mais fortes, nossos gigantes, batedores de home run”. Mas cada um com seu talento único. Vini era a luz que iluminava o caminho com seu brilho natural, e Nico era o fogo que aquecia o jogo com sua dedicação.
A primeira prova veio logo. O treinador precisava escolher um para representar o time no Home Run Derby, e a disputa ficou entre Vini e Nico. Vini foi o escolhido. Ele brilhou e pegou o segundo lugar. O Vini é assim, luz. Tem um brilho natural, aparece mesmo sem querer. Nico, que sonhava com aquele momento, não se revoltou com o amigo, mas sentiu a urgência de encontrar seu próprio caminho. Foi ali que ele entendeu: o fogo não nasce pronto. Ele precisa de combustível e o talento, as vezes, se lapida na persistência.


Vini Nogueira, o vice-rei do Home Run Derby
Pouco depois, os dois subiram para o Pré-infantil — e, pela falta de jogadores na época, subiram um ano antes. Vini virou receptor. Nico foi para o banco, passando a maior parte da temporada entrando pouco em campo. Nico chegou a sentir-se frustrado, querendo um lugar onde pudesse se destacar, assim como Vini. Buscou a chance de ser receptor, mas os treinadores entenderam que ele deveria treinar de pitcher. Durante aquele ano (com 8 anos ainda), o mais difícil até agora, eu pensei que ele largaria o beisebol. Mas o fogo, quando contrariado, queima mais forte. E Nico persistiu.
Enquanto Vini seguia com o talento bruto, daquele que parece que já nasce sabendo o que fazer com mãos e pés, Nico descobriu que seu combustível era o treino. E ele treinou. Todo dia. Com chuva, sol, frio ou calor (e até com febre), ele estava lá. Cada bolinha rebatida, cada rasteirinha agarrada, alimentava seu fogo com esforço, suor e vontade. E começou a gostar do processo. Ele se divertia nos treinos e nos jogos, sempre com paixão e entrega. E, quando não ia (por algum motivo, como feriado), sentia falta de não estar ali. Acho que consigo contar nos dedos os dias que ele me pediu para faltar, por indisposição e cansaço. E, talvez em apenas uma mão os treinos que, de fato, faltou.
Assim, a faísca virou labareda. Nico conquistou seu espaço no time e foi crescendo: jardineiro direito, primeira base, infielder e arremessador — um dos principais do time. Subiu no line-up de rebatedores, ocupando o terceiro ou quarto lugar. Mudou o corte de cabelo, achou a própria identidade. Já não era mais comparado ao Vini. Virou o Nico, o #49 de Atibaia, o menino dos mullets. Técnica apurada, postura bonita e refinada— elogiada por muitos técnicos de outros times. Tudo conquistado no treino, no suor, na repetição, e trilhando seu próprio caminho e revelando o potencial que todo mundo sempre nos falou.


Nico, em 2023, quando ganhou seu primeiro de muitos troféus. Esse foi de melhor Jardineiro Direito.
No começo desse ano, a luz de Vini pareceu meio perdida. Ele estava desanimado, chegou a faltar a alguns jogos e treinos. Parecia não se encontrar mais ali. Até que os técnicos decidiram: Vini sairia da máscara de catcher para virar arremessador. A mudança acendeu a luz nele de novo. E, como um reflexo, reacendeu o fogo de Nico, que via no amigo um espelho de talento e um desafio. É assim entre eles: um inspira o outro a buscar sua melhor versão, cada um com suas ferramentas.
A competição é constante, mas sempre com respeito mútuo. Vini chega e compartilha suas conquistas com brincadeiras (“joguei mais strikes, rebati mais home runs, eu estou na frente”), e Nico, às vezes, entra na pilha e usa isso como motivação. Às vezes, só ouve e fala: “Tá bom, Vini. Vou continuar meu treino, não vou ficar contando quem está melhor.”
A rivalidade, quando em jogo, se transforma em parceria e jogadas lindas, onde a confiança e o instinto falam mais alto que qualquer comparação. Ficou claro num jogo contra Indaiatuba. O corredor na segunda base ameaçou avançar, e Nico, defendendo a terceira, esticou o braço pedindo a bola. O catcher, sem entender, jogou para Vini, o arremessador, para encerrar a jogada e deixar o corredor avançar a base. Mas bastou um olhar de Vini para Nico que ele soube o que fazer: saiu do montinho, girou o corpo e lançou forte e certeiro para o Nico. Estalo seco. Toque preciso. OUT. Uma jogada perfeita, sem uma palavra, apenas a sintonia de dois atletas que se respeitam e confiam em suas habilidades. E essa é apenas uma das tantas jogadas que eles fazem juntos, cada um contribuindo com o seu melhor.
Recentemente, veio uma grande prova: a seletiva para a Seleção Brasileira U10. Com a luz natural dele, Vini garantiu a vaga. Todos já sabiam que ele passaria. Inclusive eu, que já tinha pensado nesse tema e escrito um rascunho desse texto.
Porém achei, genuinamente, que estaria escrevendo essa história de outro jeito, talvez focando em como os dois chegariam juntos ali. Mas, como vocês já sabem, o nome do Nico não estava na lista. E eu, bom, a realidade me mostrou uma outra história, talvez ainda mais legal.
Quando os meninos voltaram aos treinos, Nico me contou que Vini não contou vantagem de ter passado, como ele esperava. Ele simplesmente se aproximou e disse: “Cara, achei mesmo que você ia passar. Você merecia.” Nico me disse que nunca pensou que Vini falaria algo assim para ele (acredito que, na verdade, a impressão vem do fato deles terem apenas 10 anos de idade e estarem aprendendo a valorizar as conquistas alheias). Nico entendeu, naquele momento, que o amigo reconhece seu esforço e talento, mesmo sem a vaga, e valoriza a trajetória única que ele está construindo.
Nesse dia, vi nossos arremessadores principais se abraçando nos treinos, entre eles Vini e Nico. Meu olho encheu de lágrimas, porque essa prática começou a acontecer nos jogos faz pouco tempo, uns 3 ou 4 meses. Mas dessa vez, estava acontecendo no retorno dos treinos da gaiola. Sei lá, parece que eles estão crescendo e caminhando para se tornarem realmente um time, onde cada um brilha à sua maneira. Assim, quando eu achava que a competição poderia obscurecer a jornada do meu filho, ela acabou acendendo ainda mais a sua determinação. E reafirmando essa amizade baseada no respeito pelas diferenças:
"Mãe, acho que o Vinícius é mesmo meu amigo, mesmo que ele fique competindo comigo."
"Eu tb acho, filho. Às vezes, vocês só tenham jeitos diferentes de ser, né?"
Talvez um dia, Nico e Vini joguem em times diferentes, cada um seguindo seu próprio destino. Mas enquanto vestirem o mesmo boné, no mesmo campo, com o mesmo brilho nos olhos — um pela luz natural, o outro pelo fogo da dedicação — , vão continuar se empurrando para frente e para cima, para serem o melhor que podem em suas próprias jornadas.
Vini é luz. Nico é fogo. Um brilha de repente. O outro lapida seu talento aos poucos. Mas juntos, eles iluminam o beisebol do Pré-infantil de Atibaia com suas cores individuais.


Nota
Vinicius Nogueira passou na seletiva para a Seleção Brasileira e agora enfrenta um novo desafio: viabilizar sua ida com o time. A família está buscando apoio para custear a viagem, que geralmete vem da família, e qualquer contribuição é muito bem-vinda.
Chave Pix: 50562590803
Nossos meninos que estiveram na seletiva U10 2025:. Parabéns, Vini e Yago, pelas vagas. Boa sorte
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