Um menino, um grupo de amigos, um time: Atibaia Pré-Infantil

Entre innings, erros e acertos, o que ficou não foi o talento individual, mas aquilo que se constrói junto

Flavia Cabral

7/1/20254 min read

Acabou. O último Acrilex do Nico terminou neste domingo. E eu saí de lá com o coração meio apertado, meio grato — o tipo de sentimento que nos invade quando um capítulo bonito se encerra e que você tem consicência de que vai fazer falta.

Não, não é que o Nico vá deixar o beisebol. Longe disso. Mas ele mudará de de categoria ano que vem, e o Acrilex… bem, ele não existe no Infantil. Foi o fim de um ciclo. E ele soube disso. Nós também. Teve bem o gostinho de Adeus. Nico já não brincava nas oficinas ou sumia por aí, ele preferiu assistir aos jogos com fome de aprendizado. Já não aprontava esperando o encerramento, jogou um amistoso com um exemplar de cada time e de cada idade (até adulto).

O Torneio Acrilex, em sua 39a. edição, é diferente. Acontece no friozinho de junho, quando as crianças já contam os dias para as férias escolares, mas ainda têm energia de sobra para dar risada, sujar o uniforme e correr atrás da bola como se fosse o último out do mundo. É um campeonato grande — o maior em número de participantes do Brasil — , competitivo, sim, mas com um clima mais leve do que os torneios oficiais da Confederação Brasileira de Beisebol e Softbol (CBBS). Uma espécie de recreio de meio de ano, um respiro de alegria.

E talvez por isso ele seja tão querido. Porque ali, entre os jogos cabe tudo: erro, acerto, treino, brincadeira, amizade, frustração e aquela vontade genuína de jogar. Apenas jogar, sem preocupação.

Este ano, Atibaia veio com uma abordagem diferente. O time era misto: repleto de meninos do último ano da categoria, mas também de muitos do primeiro ano — que ainda estão compreendendo o jogo, buscando confiança e aprendendo a atuar com o corpo… e com a cabeça. Sabendo disso, o Sensei foi direto: a prioridade não era vencer. Era conseguir jogar todos os jogos para que todos os atletas pudessem ter o gostinho de participar — inclusive todos os pitchers em formação.

No sábado, aconteceram os dois jogos classificatórios. Quem vencesse as duas partidas subiria para a Chave Diamante — a dos times mais fortes. Mas havia um risco: subir significava jogar no domingo contra as potências da competição. E se perdesse o primeiro jogo do domingo, o time jogaria apenas uma vez. E acabou.

O Sensei não queria isso. E, pensando assim, fazia mais sentido permanecer na segunda chave — para que os jogos fossem razoavelmente mais fáceis e todas as 16 crianças tivessem a chance de entrar em campo no domingo. Era uma decisão clara: não era pelo troféu, era pela formação.

No sábado, ele escalou um pitcher por inning — 8 innings jogados, 8 pitchers em campo (para desespero das anotadoras, que precisaram registrar tantas trocas de time nas estatísticas). A defesa respondeu e provou que estava bem treinada. Ganhamos o primeiro jogo, mas perdemos o segundo por pouco. Terminamos o dia classificados para a segunda chave.

E então veio o domingo. Era preciso vencer o primeiro jogo — senão, fim de linha. Aí, o Sensei confiou no time titular. Colocou os meninos mais velhos nos lugares certos — escalando Vini e o Nico como pitchers. E o time cumpriu seu papel: venceram bonito e abriram a porta para o jogo seguinte. E, com ela, todos os atletas tiveram a chance de rebater, defender e subir no montinho. Todos participaram. Todos viveram a experiência de estar ali. Contei 10 pitchers atuantes ao todo — acho que são todos que foram.

E o Nico?

O Nico jogou bem, leve e solto — double play, assistências, boas rebatidas, innings inteiros sem tomar corrida. Mas o mais bonito não foi o que ele fez com a bola, e sim pelos outros. Com seus dois anos de ‘carreira no montinho’ — uma eternidade na vida de um pitcher mirim com 10 anos — , ele ajudou os amigos com menos rodagem. Corrigiu o movimento, a pegada, a passada. Deu instruções e incentivo com a voz e no olhar. Fez questão de dar espaço e, ao mesmo tempo, dar apoio. No último jogo, voltou para o banco e ficou ali, ao lado dos senseis, ajudando com as instruções.

Ele não estava ali apenas para jogar. Estava ali para garantir que os amigos não passassem sozinhos pelo que ele já havia passado: a ansiedade, o medo, a dúvida. O frio na barriga de quem sobe no montinho e ouve o mundo inteiro em silêncio. De quem está sozinho lá, errando. Ele queria que os amigos tivessem a confiança de arremessar, de errar e até de colocar jogadores em base — com a garantia de que eles, a defesa do segundo ano, estaria ali para segurar os corredores.

E ele fez isso sem ninguém pedir. Fez porque quis. Fez porque entendeu. Fez porque cresceu.

Então sim, o Acrilex acabou. Sem taça no alto, mas com o time inteiro em pé. Sem destaque individual, mas com orgulho coletivo. Sem o brilho de uma final vencida, mas com a certeza de que, às vezes, o maior título é o que a gente leva para dentro — de nós próprios e do time.

Foi o último Acrilex do Nico como jogador. Mas talvez tenha sido o mais bonito. Porque ele jogou como atleta e viveu como o nosso Atibaia Pré-Infantil.

Quer entender por que esse momento foi tão marcante? Leia também: O dia em que Nico ficou sozinho no montinho e aprendeu demais com isso.

O Atibaia pré-infantil, com atletas de 2015 e 2016.

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